Os filhos, Joana e Alexandre, são os legítimos herdeiros de Pinto da Costa e preparam-se para as partilhas, mas mais do que aquilo que dita o testamento, investiga-se um património não delcarado de largos milhões. Fortuna poderá ser ‘desenterrada’ depois da morte do antigo presidente portista.
Se a maioria das figuras públicas, como Cristiano Ronaldo ou Paula Amorim, veem anualmente as suas contas detalhadas nas famosas listas dos mais ricos do globo, como a Forbes, outras há para quem o saldo bancário é um enorme mistério. Pinto da Costa pertencia à segunda categoria. Esteve 42 anos à frente do FC Porto, teve uma vida exposta nos dragões, mas a verdade é que, fora aquilo que declarava oficialmente como os seus rendimentos como homem-forte do clube e respetivos prémios – o que nos últimos anos andava entre os 700 mil euros e o 1 milhão anuais – pouco se sabe sobre a dimensão da sua fortuna.
Na gíria popular dizem que ele é como os piratas, que tem tesouros escondidos nos sítios mais aleatórios, mas consciente do burburinho que este tema iria causar ele deixou o aviso, no seu livro ‘Azul até ao Fim’: escusam de vasculhar em paraísos fiscais como as ilhas Caimão que ele diz que não tem sociedades secretas ou contas no estrangeiro.
Então, o que podem esperar os filhos, Joana e Alexandre, quando abrirem o testamento? Haverá mais do que esse documento oficial possa ditar? Para além dos milhões declarados que amealhou ao longo dos últimos anos no clube, sabe-se também que Pinto da Costa tem um vasto património imobiliário, sobretudo no Porto, onde foi adquirindo luxuosas casas, e poderá haver também alguns refúgios secretos fora da Invicta. Terá também como que o seu próprio museu do FC Porto, com o legado histórico que lhe traria o lugar de presidente, e sabe-se também que não era homem dado a grandes luxos. Fora um bom carro, algumas joias que comprava para as namoradas – algumas dessas terão sido mesmo pagas com o cartão de crédito do FC Porto – não tinha extravagâncias, almoçava e jantava fora com uma frequência diária. Fora isso, pouco há que possa ter delapidado a sua fortuna.
Por outro lado, muito se tem falado do que amealhou à revelia das contas públicas. Recentemente, André Villas-Boas destapou a ponta do véu: Pinto da Costa e outros administradores do clube serviram-se dos cartões de crédito do clube como se fosse a a sua conta pessoal. Pagaram as compras de supermercado, as férias, as jantaradas, obras em casa, os presentes para as namoradas e amantes, tudo com o Visa do FC Porto.
Perante a derrapagem nas contas, o atual presidente dos dragões remeteu a auditoria para o Ministério Público, que poderá pedir o arresto dos bens de Pinto da Costa para garantir que há como pagar o dinheiro que terá sido desviado dos cofres para proveito próprio. Mas isto é aquilo que mostra uma simples auditoria à história recente do clube, porque cavar mais fundo significar, provavelmente, desenterrar polémicas que podem abrir uma espécie de poço sem fundo, uma mina que já começou a ser explorada quando, em 2021, o Ministério Público abriu inquéritos para que o antigo presidente, o filho Alexandre e o empresário Pedro Pinho explicassem vários negócios de jogadores, com os quais teriam obtido ilegalmente vários milhões de euros, numa quantia que ascenderia aos 40 milhões, no total. O esquema teria sido perpetuado durante mais de dez anos.
“Para colocarem jogadores no FC Porto ou venderem jogadores do FC Porto, os agentes aceitam devolver aos dirigentes desportivos do mesmo clube, designadamente a Jorge Nuno Pinto da Costa, parte dos montantes cobrados pela sua intervenção como intermediários nesses negócios”, pode ler-se no despacho, revelado à época pela ‘Sábado’, onde se acrescentava: “As diligências de recolha de prova visam investigar a suspeita de prática de crimes de fraude fiscal, burla, abuso de confiança e branqueamento, relacionados com transferências de jogadores de futebol e com circuitos financeiros que envolvem os intermediários nesses negócios.”
A investigação e consequente polémica terá sido uma das razões pelas quais Pinto da Costa cortou relações com o filho Alexandre há cerca de dois anos, sendo que os dois só se reaproximariam nos últimos meses, face ao agravamento da condição de saúde do antigo presidente.
QUANTO TINHA PINTO DA COSTA NA CONTA? ELE RESPONDE
Acusado de falta de transparência, há muito que pairava sobre Pinto da Costa a especulação de uma gestão abusiva das contas do FC Porto, mas publicamente, o dirigente optou sempre pela sua habitual ironia quando era questionado sobre o assunto.
Numa das grandes entrevistas que deu ao ‘Expresso’, em 2010, perguntaram-lhe sobre o facto de ter recebido 700 mil euros de ordenados da SAD e se, por isso, se considerava uma pessoa bem paga. Perante a questão, contornou o assunto.
Questionado, de seguida, sobre se sabia ao certo quanto dinheiro tinha no banco, Pinto da Costa seria perentório “Tenho sempre pouco.”
No entanto, sempre gozou de uma vida consonante com o trono que ocupava. Os luxos não se mediam tanto por Rolexs, Ferraris ou extravagâncias do género, mas o património imobiliário foi crescendo discretamente e Pinto da Costa trouxe sempre os filhos para o mundo dos proventos financeiros. Se em tempos Alexandre era o agente de serviço responsável pela transação de jogadores, Joana tinha lugar de destaque no departamento de marketing do clube, regalias que acabaram assim que André Villas-Boas tomou posse.