Morreu João Cravinho, histórico do PS e defensor incansável da ética na política
É com profundo pesar que se confirma o falecimento de João Cravinho, uma das figuras mais marcantes do Partido Socialista português. O antigo governante morreu tranquilamente em casa, aos 88 anos, segundo confirmou a família à RTP.
Nascido em 1936, em Malange, Angola, João Cravinho teve uma carreira ímpar, tanto na vida política como académica. Engenheiro civil de formação pelo Instituto Superior Técnico, prosseguiu estudos em economia na Universidade de Yale e iniciou o doutoramento em Oxford. Antes de se juntar ao Partido Socialista, em 1976, esteve ligado ao Movimento de Esquerda Socialista (MES) e à Intervenção Socialista (GIS).
No plano governativo, destacou-se como ministro da Indústria e Tecnologia no IV Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves, e mais tarde como ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território no XIII Governo Constitucional, chefiado por António Guterres. Entre 2007 e 2011, desempenhou ainda funções como administrador do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), em Londres.
João Cravinho ficou também conhecido pelo seu firme combate à corrupção. Em 2006, apresentou um pacote legislativo anticorrupção que incluía, entre outras medidas, a criminalização do enriquecimento ilícito — proposta que acabou por não avançar, enfrentando resistência até dentro do próprio PS.
O seu legado continua vivo também através do filho, João Gomes Cravinho, que assumiu as pastas da Defesa e dos Negócios Estrangeiros em governos liderados por António Costa.
Com a sua morte, o Partido Socialista e o país perdem uma das vozes mais lúcidas e empenhadas na construção da democracia portuguesa e na defesa da ética na vida pública.