Centro de Saúde de Coruche só funciona aos fins de semana: homem morre sem acesso a cuidados e autarquia exige explicações
Um homem de 70 anos perdeu a vida na tarde de quinta-feira, 8 de maio, em Coruche, após não conseguir acesso imediato a cuidados médicos. O Centro de Saúde local, atualmente a funcionar apenas aos fins de semana, estava encerrado no momento em que o idoso se sentiu mal, o que gerou revolta entre os habitantes e a autarquia local.
De acordo com o jornal Notícias do Sorraia, a vítima deslocava-se com o filho para o Centro de Saúde quando, já depois das 19h00, se sentiu subitamente indisposto e desmaiou. Ao chegarem ao local, encontraram a unidade de saúde encerrada, uma vez que esta apenas está em funcionamento aos sábados e domingos, entre as 9h00 e as 19h00.
Sem alternativas, o filho do idoso dirigiu-se ao quartel dos Bombeiros Municipais de Coruche em busca de ajuda urgente. Os bombeiros iniciaram de imediato manobras de reanimação e solicitaram apoio ao INEM. Apesar dos esforços, o óbito foi declarado ainda dentro da ambulância.
A situação provocou uma onda de indignação na vila ribatejana. A população, já há muito insatisfeita com o encerramento parcial do Centro de Saúde, voltou a manifestar-se contra a medida imposta pela Unidade Local de Saúde (ULS) da Lezíria. Muitos moradores afirmam sentir-se abandonados e desprotegidos em caso de urgência durante os dias úteis.
A Câmara Municipal de Coruche reagiu de forma veemente ao acontecimento, classificando-o como “inaceitável” e exigindo responsabilidades à ULS. Em comunicado, a autarquia lamentou profundamente a morte do cidadão e reforçou os apelos para a reabertura do Serviço de Atendimento Complementar (SAC) nos dias úteis, alertando para os riscos reais que a atual decisão acarreta.
“O funcionamento restrito do centro de saúde compromete a resposta em situações críticas. Esta tragédia evidencia os perigos de decisões administrativas que não consideram as reais necessidades das populações do interior”, sublinhou o presidente da Câmara, Diogo Gomes.
A ULS da Lezíria ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas fontes internas admitem que o encerramento do serviço nos dias úteis está relacionado com a falta de médicos e com a reorganização regional dos cuidados de saúde primários. No entanto, a justificação não é suficiente para acalmar os ânimos em Coruche.
O incidente trouxe à tona preocupações antigas sobre o acesso a cuidados médicos em regiões do interior do país, onde a escassez de profissionais e a centralização dos serviços em polos urbanos deixa milhares de pessoas vulneráveis. Organizações locais e utentes ameaçam com manifestações se a situação não for revista de imediato.
Entretanto, vários partidos políticos da região já pediram explicações à tutela e exigem que o Ministério da Saúde intervenha para garantir o funcionamento regular da unidade. O caso poderá ser levado ao Parlamento nos próximos dias, com o objetivo de reavaliar a política de funcionamento dos centros de saúde em zonas rurais.
Enquanto isso, os habitantes de Coruche vivem entre a dor da perda e a revolta por sentirem que, em momentos críticos, o apoio que esperam do Estado simplesmente não está disponível. A morte do homem de 70 anos poderá tornar-se símbolo de uma luta mais ampla pelo direito à saúde, independentemente do local onde se vive.