Dos 58 deputados eleitos pelo Chega

O crescimento expressivo do Chega nas legislativas de 2025 trouxe para o Parlamento um conjunto de deputados envoltos em múltiplas controvérsias. Entre os 58 eleitos, quase metade já teve o nome associado a processos judiciais, polémicas públicas ou comportamentos questionáveis. Este panorama lança dúvidas sobre a coerência entre o discurso político do partido e a conduta de muitos dos seus representantes.

Apresentando-se como defensor da moralidade, da ordem e da justiça, o Chega tem usado a sua retórica para atacar adversários políticos e denunciar a suposta degradação ética das instituições democráticas. No entanto, a presença de deputados com passados controversos põe em causa essa narrativa, revelando um padrão de tolerância interna que contradiz os princípios que o partido afirma defender.

As acusações que recaem sobre os eleitos são diversas: desde dívidas não pagas e condenações por difamação, até investigações por incitamento ao ódio e casos mais graves, como suspeitas de abuso sexual. Há também episódios de agressões verbais e físicas, bem como práticas de nepotismo e falsas presenças no Parlamento. Este conjunto de ocorrências reforça a perceção de que, dentro do Chega, há pouca exigência ética na escolha de candidatos.

A manutenção de figuras polémicas nas listas eleitorais, mesmo após envolvimento em escândalos, sugere que o critério dominante é a fidelidade ao partido e ao seu líder, em detrimento da idoneidade pessoal. A disciplina interna parece aplicar-se com mais rigor a vozes críticas dentro da própria estrutura do que a comportamentos eticamente censuráveis. Esta dualidade mina a credibilidade institucional do grupo parlamentar.

O impacto destes factos vai além da imagem do partido. A confiança dos cidadãos no Parlamento e na democracia é afetada quando eleitos com histórico duvidoso assumem funções públicas de relevo. Esta situação compromete o papel fiscalizador e legislador dos deputados e enfraquece o debate político ao transformar a Assembleia numa arena de conflitos pessoais e polémicas mediáticas.

Apesar das constantes acusações contra os outros partidos, o Chega não se diferencia pela ética na prática. Pelo contrário, parece replicar comportamentos que tanto critica, protegendo os seus enquanto exige demissões e investigações aos rivais. Esta postura evidencia um uso instrumental da moralidade como ferramenta política, mais do que um verdadeiro compromisso com a integridade.

Num momento em que os eleitores exigem mais transparência e responsabilidade, o perfil dos representantes do Chega coloca sérias questões sobre o futuro da política portuguesa. A força de um partido não deve medir-se apenas pelo número de votos, mas pela qualidade e coerência dos seus quadros. Sem isso, qualquer promessa de mudança torna-se apenas mais uma estratégia de propaganda.