Faleceu aos 94 anos Maria João Rolo Duarte, uma das figuras mais marcantes da comunicação social portuguesa. A jornalista destacou-se por abrir portas num tempo em que o jornalismo era dominado por homens, sobretudo na área desportiva, onde foi uma das primeiras vozes femininas de relevo.
Natural de Lisboa, Maria João cresceu num ambiente familiar que valorizava a cultura e a educação. Desde cedo demonstrou talento para a escrita, uma curiosidade insaciável e uma paixão assumida pelo desporto.
Foi em 1956 que fez história ao tornar-se a primeira mulher portuguesa a assinar uma coluna desportiva num jornal de circulação nacional. Esse feito, inédito na época, valeu-lhe não só destaque imediato, como também resistência num meio conservador.
Ao longo da sua carreira, trabalhou em alguns dos mais importantes jornais e revistas do país. Em todos eles deixou a sua marca: um estilo apurado, uma análise profunda e um olhar humano sobre o fenómeno desportivo.
Mas Maria João não se limitou à escrita. Chegou a chefe de redação e diretora editorial, sendo reconhecida pela sua liderança firme, mas sempre generosa. Foi mentora de muitos jovens jornalistas, independentemente do género, num tempo em que isso não era comum.
Era também uma cronista de mão cheia, com textos que abordavam não só o desporto, mas também cultura, política e sociedade. A sua versatilidade tornou-a uma presença respeitada e aguardada nas páginas dos jornais.
Na rádio, contribuiu para vários programas de comentário desportivo e cultural, sendo uma das primeiras mulheres a ocupar esse espaço com regularidade. Era admirada pela sua clareza e capacidade de argumentação.
Para além do jornalismo, Maria João foi também autora de livros que analisavam o papel da mulher na sociedade e na imprensa. O seu compromisso com a igualdade foi uma constante em tudo o que fazia.
Ao longo dos anos, foi homenageada por diversas entidades, incluindo associações de imprensa e organismos ligados ao desporto. Nunca procurou reconhecimento, mas a sua carreira tornou-se exemplo de mérito e persistência.
Colegas de profissão recordam-na como uma mulher à frente do seu tempo, que nunca teve medo de enfrentar obstáculos nem de defender aquilo em que acreditava. A sua voz firme e o seu pensamento livre são hoje lembrados com saudade.
Para os leitores, Maria João Rolo Duarte era sinónimo de qualidade, rigor e humanidade. A forma como escrevia aproximava o público dos temas, mesmo os mais técnicos, sempre com empatia e clareza.
Foi também uma defensora intransigente da ética no jornalismo. A sua conduta profissional e pessoal inspirou várias gerações de comunicadores.
Maria João atravessou décadas de mudanças no panorama mediático português, mas manteve-se sempre atual. Adaptou-se aos tempos sem perder os seus princípios.
Apesar da idade avançada, manteve-se ativa até os últimos anos, escrevendo artigos de opinião e participando em debates públicos sobre o futuro da comunicação social.
A sua partida representa o fim de uma era, mas o seu legado permanecerá. A memória de Maria João continuará viva nas redações, nos livros, nas aulas de jornalismo e nas conversas sobre ética e paixão pela profissão.
As cerimónias fúnebres decorrerão em Lisboa nos próximos dias, com previsão de grande afluência por parte de colegas, admiradores, familiares e antigos alunos.
Várias instituições já anunciaram que irão promover homenagens póstumas à jornalista, incluindo eventos, prémios e publicações em sua honra.
O jornalismo português perde uma das suas figuras mais importantes, mas ganha um exemplo eterno de coragem, inteligência e humanidade.
Maria João Rolo Duarte deixa-nos uma lição: que é possível mudar o mundo com palavras — desde que escritas com verdade e com o coração.