Irmã gémea de Mónica da Murtosa ouvida

A sétima sessão do julgamento pela morte de Mónica Silva ficou marcada pelo aguardado depoimento da sua irmã gémea, Sara Silva, uma das testemunhas-chave do processo. Considerada a pessoa mais próxima de Mónica, Sara desempenha um papel central na acusação, tanto pela ligação emocional quanto pelo conhecimento direto da vida pessoal e emocional da vítima.

O seu testemunho iniciou logo no arranque da sessão desta quarta-feira, após várias adiamentos anteriores. Durante a manhã, Sara revelou já sentir reações visíveis por parte de Fernando Valente, o arguido, enquanto falava: “Ele olhou para mim. Teve muitas reações ao meu depoimento”, disse, acrescentando que dará mais declarações sobre a impressão que teve dele no final da audiência.

O Ministério Público antecipa que a inquirição a Sara Silva será longa, provavelmente ocupando o dia inteiro. A expectativa é que a sua narrativa traga não só detalhes sobre a personalidade e o estado emocional de Mónica nos meses que antecederam o crime, como também informações sensíveis sobre a relação da vítima com o arguido.

Na véspera, o tribunal ouviu um inspetor da Polícia Judiciária que revelou dados cruciais relacionados com a chamada “pegada digital” de Mónica e de Fernando. Esses dados sustentam a cronologia e a dinâmica dos últimos momentos de vida da vítima, incluindo a movimentação dos telemóveis e o padrão de comunicações entre ambos.

Ainda na sessão de terça-feira, foi reproduzido o depoimento gravado para memória futura de um dos filhos menores de Mónica. A presença de crianças no processo adiciona uma camada emocional complexa ao julgamento, além de reforçar o peso trágico do caso.

Também foi ouvido o ex-marido da vítima, assistente no processo. Devido à sua atividade profissional no mar, prestou declarações remotamente. O seu testemunho pretendeu contextualizar o ambiente familiar, o papel de Mónica como mãe e eventuais sinais de preocupação anteriores ao crime.

Fernando Valente, que responde em prisão domiciliária, é acusado de homicídio qualificado, aborto (pela morte do feto com sete meses de gestação) e profanação de cadáver. A defesa alega que não houve premeditação, mas a acusação sustenta que o crime foi cuidadosamente planeado.

Nos próximos dois dias, o julgamento entra numa nova fase: a audição das testemunhas de defesa. Este momento será determinante para perceber a estratégia da equipa jurídica de Fernando Valente, que tenta contrariar a narrativa da acusação e justificar os seus atos sob outro prisma.

O julgamento tem sido seguido com enorme atenção pública e mediática, não só pela gravidade dos factos, mas também pela dimensão emocional e familiar do caso. A morte de uma mulher grávida, alegadamente às mãos de alguém com quem mantinha uma relação íntima, tocou profundamente a sociedade.

A presença da irmã gémea da vítima reforça o caráter devastador do crime. Sara, além de representar a família, carrega a dor de uma perda que é vivida de forma duplamente intensa. A sua participação poderá trazer um impacto simbólico importante junto dos juízes.

Além das evidências técnicas e científicas, o julgamento está também a ser construído com base nos laços afetivos e emocionais, que ajudam a compor o retrato psicológico do arguido e da vítima. O comportamento de Fernando durante o depoimento de Sara poderá ser analisado como indicativo da sua postura e arrependimento — ou falta dele.

Espera-se que nos próximos dias o tribunal defina melhor os contornos da acusação, com base na articulação entre os testemunhos, os relatórios da investigação e os dados técnicos obtidos ao longo das diligências.

A presença de especialistas forenses, nomeadamente psicólogos e médicos-legistas, também é esperada nas próximas sessões, para reforçar os elementos ligados à intencionalidade do crime e ao perfil do arguido.

A eventual participação de outros intervenientes, como familiares do arguido ou amigos comuns, poderá também surgir na tentativa de contextualizar a sua personalidade e o seu comportamento anterior aos factos.

Este processo é um dos mais mediáticos dos últimos anos no país, não só pela violência do crime, mas pela discussão que levantou sobre violência doméstica, gravidez e responsabilidade parental.

O tribunal de Aveiro tem adotado uma postura firme no decorrer das sessões, procurando garantir que todas as partes sejam ouvidas com equidade, mas também com sensibilidade para a complexidade do caso.

A sociedade portuguesa continua a acompanhar o julgamento com expectativa, esperando que se faça justiça por Mónica Silva e pelo bebé que nunca chegou a nascer. As palavras da irmã gémea, emocionadas e firmes, são já um dos momentos mais marcantes de todo o processo.

A conclusão do julgamento ainda está distante, mas cada sessão aproxima a verdade de ser completamente conhecida. A dor da família poderá nunca ser sanada, mas a responsabilização de todos os envolvidos é vista como o mínimo necessário para que haja algum sentimento de justiça.