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O julgamento de Fernando Valente, acusado do homicídio de Mónica Silva, grávida desaparecida na Murtosa, conheceu esta semana um novo momento marcante. Uma testemunha protegida, identificada como prostituta que manteve uma relação com o arguido durante cerca de quatro anos, prestou um depoimento considerado relevante no Tribunal de Aveiro.
A mulher descreveu encontros frequentes com o empresário, com quem manteve uma relação profissional desde o final de 2018 até 2022. Durante esse período, afirmou que Valente exigia relações sexuais sem preservativo, comportamento que teria sido recorrente após os primeiros encontros, onde o uso de proteção ainda era respeitado.
Esta revelação coloca em causa uma das principais linhas de defesa do arguido. Fernando Valente tem sustentado, desde o início do processo, que nunca manteve relações sexuais desprotegidas, tentando assim afastar a possibilidade de ser o pai do bebé que Mónica Silva esperava.
Para o Ministério Público, este detalhe é central. A tese da acusação aponta para um homicídio motivado pelo receio de Valente em assumir a paternidade da criança. O facto de uma testemunha próxima afirmar o contrário das alegações do arguido pode reforçar o cenário traçado pela investigação.
A mulher relatou ainda que o empresário não procurava apenas sexo nos encontros. Segundo ela, Valente era emocionalmente carente e procurava conforto e afeto. “Queria colo”, afirmou, descrevendo um homem com comportamentos ambíguos e frágeis durante os encontros num apartamento na zona do Grande Porto.
O contacto entre os dois terá cessado precisamente em 2022, o ano em que, segundo as mensagens recolhidas pela irmã da vítima, Fernando Valente terá iniciado uma ligação com Mónica Silva. A coincidência temporal levanta novas suspeitas sobre a profundidade da relação entre arguido e vítima.
Apesar de a testemunha não ter prestado declarações sobre os factos diretamente relacionados com o crime, o seu depoimento contribui para traçar um perfil psicológico e comportamental do arguido. O tribunal pretende compreender melhor o contexto emocional e relacional que envolve a acusação.
Dadas as circunstâncias delicadas, a segurança da testemunha foi garantida ao mais alto nível. Utilizou um nome de código no processo, e os seus movimentos dentro e fora do tribunal foram protegidos para assegurar o anonimato, como prevê a lei de proteção a testemunhas.
O julgamento, que tem sido acompanhado com grande atenção mediática, continua a gerar grande expectativa. A possibilidade de surgirem novas revelações nas próximas sessões mantém a atenção centrada no que poderá ser um dos processos mais mediáticos do ano.
Com o processo ainda em curso, e novas testemunhas previstas para breve, o caso de Mónica Silva continua a levantar muitas perguntas. Resta agora ao coletivo de juízes apurar até que ponto as declarações ouvidas contribuem para a verdade dos factos e a justiça devida.