André Ventura: “Irei preso se necessário”VER MAIS …

A figura em questão tornou-se, nos últimos tempos, um símbolo de polarização. A sua forma de estar na vida pública não deixa ninguém indiferente. Para uns, representa uma voz firme num tempo de hesitações. Para outros, é apenas mais um agente do ruído que contamina o espaço cívico. O impacto que tem gerado é reflexo direto da sua postura assertiva, por vezes intransigente, que tanto mobiliza como repele.

Os seus apoiantes veem nele alguém que diz o que pensa sem filtros, com coragem para enfrentar tabus e desafiar consensos. Consideram que é uma presença necessária num contexto em que muitos preferem o silêncio à controvérsia. Para esses, a frontalidade é sinal de autenticidade, e a persistência é confundida com integridade. Não hesitam em defendê-lo como alguém que está do lado “certo da história”.

Por outro lado, os críticos argumentam que essa mesma frontalidade é, na verdade, agressividade disfarçada. Acusam-no de alimentar conflitos, dramatizar divergências e adotar um discurso centrado na vitimização, colocando-se frequentemente como alvo de perseguições ou injustiças. Para esses, não há coragem, mas sim cálculo; não há firmeza, mas sim provocação sistemática.

Este clima de antagonismo constante em torno da sua figura reflete também um fenómeno mais amplo: a crescente fragmentação da opinião pública e a dificuldade em encontrar espaços comuns de entendimento. Cada declaração, gesto ou silêncio é interpretado à lupa, ampliado pelas redes sociais e usado como arma no campo de batalha da opinião. O debate cede lugar ao ataque, e o dissenso transforma-se em rutura.

É inegável que parte do seu impacto resulta precisamente dessa capacidade de dividir. A sua presença obriga à tomada de posição: ou se está com ele, ou contra ele. Esta lógica binária é eficaz para mobilizar apoios leais, mas também cria resistências intensas. O espaço para o meio-termo esbate-se, e a figura torna-se maior do que o conteúdo das suas intervenções.

Apesar de todas as críticas, não se pode ignorar que o seu papel tem sido relevante no debate público. Ao provocar reações fortes, obriga a sociedade a refletir, mesmo que sob tensão. Há mérito em levantar questões desconfortáveis e forçar o sistema a dar respostas. Mas a forma como isso é feito não é irrelevante: o tom, o contexto e a abertura ao contraditório são fatores determinantes na qualidade da discussão que se pretende gerar.

No fim, o legado desta postura — seja ela lida como heroica ou como tóxica — dependerá menos das intenções e mais das consequências. Num tempo marcado por ruído e excesso de opinião, o que verdadeiramente importa é saber se o impacto gerado constrói pontes ou apenas aprofunda fossos. E essa resposta só o tempo poderá dar.