Fernando Madureira continua em prisão preventiva e revela intenções de afastar-se da liderança da claque
Fernando Madureira, ex-líder da claque Super Dragões, vai continuar em prisão preventiva. A decisão foi comunicada esta sexta-feira pela juíza responsável pelo caso da Operação Pretoriano, que considera manter-se o perigo de continuação da atividade criminosa, bem como o risco de perturbação da ordem e tranquilidade públicas.
Detido desde 31 de janeiro de 2024, e em prisão preventiva desde 7 de fevereiro do mesmo ano, Madureira está preso há 15 meses. Durante este período, tem tido um comportamento considerado exemplar no estabelecimento prisional, onde atualmente é responsável pelo ginásio.
Além disso, o arguido frequenta aulas de Português e Inglês e colabora ativamente com o jornal interno da prisão. A sua integração nas atividades da instituição é um dos aspetos destacados no relatório de reinserção social recentemente anexado ao processo.
O documento, elaborado por uma técnica especializada, revela também as intenções de Fernando Madureira no que diz respeito ao seu futuro fora das grades. Entre elas, destaca-se a decisão de não regressar à liderança da claque Super Dragões.
No entanto, Madureira pretende continuar a ser sócio do Futebol Clube do Porto, clube ao qual está ligado desde 1995. Segundo o relatório, essa vontade prende-se com a sua forte identificação pessoal e emocional com a instituição portista.
O ex-líder dos Super Dragões mostrou tristeza diante da possibilidade de ser excluído como sócio do clube, algo que estaria a ser ponderado pela atual direção. Essa eventual medida, segundo ele, seria mais um golpe a somar ao sofrimento já causado a si e à sua família.
A família de Madureira, conforme consta no relatório, também tem enfrentado dificuldades emocionais e sociais devido à exposição pública do processo. Ainda assim, manifestam apoio às decisões do ex-líder da claque, incluindo a de abandonar a liderança do grupo.
Madureira expressou ainda vontade de retomar a atividade profissional ligada à gestão de empreendimentos turísticos e à administração de rendas de imóveis familiares, caso venha a ser libertado e as condições legais o permitam.
Segundo o relatório, os rendimentos da família Madureira rondam os seis mil euros mensais, provenientes de diversas fontes: dois apartamentos arrendados, um estabelecimento comercial, dois espaços com máquinas ATM, o salário da esposa na gerência de uma empresa e rendimentos variáveis de consultas de psicologia realizadas numa box de treino.
A referida box pertence à família, sendo um espaço de treino personalizado onde trabalham familiares diretos de Fernando Madureira. O próprio já indicou que poderá exercer atividade nesse local assim que estiver em liberdade.
O documento técnico indica que, “na eventualidade de ser condenado e se a pena concretamente aplicada o permitir”, Madureira reúne condições para cumprir uma pena em regime de execução na comunidade, desde que demonstre arrependimento e reconhecimento dos danos causados.
A Operação Pretoriano, da qual Fernando Madureira é um dos 12 arguidos, teve início no tribunal do Porto em 17 de março de 2025. Os acusados respondem por um total de 31 crimes, relacionados com atos ocorridos no contexto de uma assembleia geral do FC Porto em novembro de 2023.
Entre os crimes imputados estão 19 de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física em contexto de espetáculo desportivo, um de instigação pública à prática de crime, um de arremesso de objetos e líquidos, e três de atentado à liberdade de informação.
O caso envolve episódios de violência e intimidação que terão visado elementos da oposição interna do clube, jornalistas e outros participantes na referida assembleia geral. A investigação considera haver uma ação coordenada de intimidação.
A juíza que acompanha o processo considera que se mantêm os fundamentos que levaram à aplicação da medida de coação mais gravosa: a prisão preventiva. A possibilidade de reincidência e a perturbação da ordem pública justificam, segundo o despacho, a sua manutenção.
A defesa de Fernando Madureira tem tentado a revisão da medida, mas até agora os argumentos apresentados não foram suficientes para convencer o tribunal a adotar medidas menos gravosas, como prisão domiciliária ou apresentações periódicas.
O julgamento encontra-se em curso no Tribunal de São João Novo, no Porto. A próxima fase arranca na segunda-feira, altura em que começarão a ser ouvidas as testemunhas de defesa, um momento aguardado com expectativa pela equipa jurídica de Madureira.
A postura demonstrada pelo arguido dentro da prisão, incluindo a assunção de algumas responsabilidades e a revelação de novas intenções para o futuro, poderá vir a ter impacto na decisão final do tribunal, mas para já não é suficiente para alterar a sua condição cautelar.
Enquanto isso, Fernando Madureira continua a cumprir a sua prisão preventiva, tentando demonstrar que está disposto a mudar o rumo da sua vida, afastando-se do passado associado à claque e procurando reinserir-se na sociedade por outras vias.