DOR E LUTO SISMO VIOLENTISSIMO FEZ PELO MENOS 300 000 MORTES…ver mais

Por que é tão difícil prever terremotos, mesmo com os avanços da ciência?

Enquanto o Sudeste Asiático contabiliza as vítimas do recente sismo que atingiu Mianmar e a Tailândia, o Japão emite um alerta sombrio sobre a possibilidade de um futuro megaterremoto, potencialmente seguido de um tsunami devastador. Segundo as autoridades japonesas, tal evento poderá ceifar a vida de até 300 mil pessoas — uma previsão baseada em modelos científicos e históricos que revela a urgência de compreender os limites da ciência na antecipação destes desastres naturais.

Apesar da evolução tecnológica e do conhecimento geológico acumulado, continua a ser extraordinariamente difícil prever com exatidão quando e onde ocorrerá um grande terremoto. A destruição provocada por fenómenos como o recente sismo no Sudeste Asiático contrasta com a impotência da ciência para antecipar com precisão tais acontecimentos.

A origem invisível do caos

Para entender esta dificuldade, é essencial conhecer como se formam os terremotos. Como explica o professor Fábio Reis, os sismos resultam da libertação súbita de energia acumulada no interior da Terra, ao longo de falhas geológicas. Esta energia é gerada pelo atrito entre as placas tectónicas — imensos blocos de rocha que compõem a crosta terrestre e que estão em constante movimento.

Quando a tensão acumulada supera o ponto de resistência das rochas, ocorre a rutura, libertando-se energia sob a forma de ondas sísmicas. O ponto subterrâneo onde isto acontece é o hipocentro, e o ponto correspondente à superfície, onde se sente com mais intensidade, é o epicentro.

Ciência versus caos natural

Apesar de sabermos onde se encontram muitas das falhas sísmicas mais ativas do mundo — como a Fossa Nankai no Japão ou a Falha de San Andreas nos EUA — o momento da libertação da energia é imprevisível. As falhas comportam-se de forma altamente complexa e são afetadas por inúmeros fatores: a geometria da falha, a composição das rochas, a presença de líquidos e a velocidade com que a tensão se acumula.

Os sistemas modernos de monitorização sísmica, embora extremamente avançados, são incapazes de detetar com segurança sinais claros de que um grande sismo está prestes a ocorrer. Os chamados pré-choques — pequenos tremores que por vezes antecedem um grande terremoto — nem sempre acontecem e, quando ocorrem, não garantem que o evento maior se seguirá.

Além disso, a acumulação de tensão pode variar muito em ritmo e intensidade, mesmo dentro da mesma região. Isso impossibilita a criação de um “relógio sísmico” fiável.

O futuro da previsão sísmica

Apesar de todos os desafios, a investigação nesta área é contínua e intensa. Cientistas de todo o mundo desenvolvem modelos cada vez mais sofisticados, cruzando dados históricos, geofísicos e estatísticos. O objetivo é encontrar padrões ou sinais consistentes que possam servir como alerta antecipado, permitindo salvar vidas.

Até lá, a estratégia continua a ser a preparação: reforço das infraestruturas, planos de evacuação, educação da população e sistemas de alerta precoce, como os que o Japão já implementa com relativo sucesso.

A imprevisibilidade dos terremotos lembra-nos que, mesmo em tempos de enorme avanço tecnológico, a Terra continua a guardar segredos que escapam ao nosso controlo. Mas é precisamente essa incerteza que motiva a ciência a continuar a procurar respostas — e, um dia, talvez, soluções.